Todos os dias Catapimba levava dinheiro para escola para comprar o lanche.
Chegava no bar, comprava um sanduíche e pagava seu Lucas.
Mas seu Lucas nunca tinha troco.
Um dia, Catapimba reclamou de seu Lucas:
– Seu Lucas, eu não quero bala, quero meu troco em dinheiro.
– Ora, menino, eu não tenho troco. Que é que eu posso fazer?
– Ah, eu não sei! Só sei que quero meu troco em dinheiro!
– Ora, bala é como se fossa dinheiro, menino? Ora essa.
Catapimba ainda insistiu umas duas ou três vezes.
A resposta era sempre a mesma:
– Ora, menino, bala é como se fosse dinheiro, então, leve um chiclete, se não gosta de bala.
Aí, Catapimba resolveu dar um jeito.
No dia seguinte, apareceu com um embrulhão de baixo do braço. Os colegas queriam saber o que era. Catapimba ria e respondia;
– Na hora do recreio, vocês vão ver.
E, na hora do recreio, todo mundo viu.
Catapimba comprou o seu lanche. Na hora de pagar, abriu o embrulho. E tirou de dentro.. uma galinha.
Botou a galinha em cima do balcão.
– Que é isso, menino? – perguntou seu Lucas.
– É pra pagar o sanduíche, seu Lucas. Galinha é como se fosse dinheiro. O senhor pode me dar troco, por favor?
Os meninos estavam esperando para ver o que seu Lucas ia fazer.
Seu Lucas ficou um tempão parado, pensando.
Aí colocou umaS moedas no balcão:
– Está aí seu troco, menino!
E pegou a galinha, para acabar com a confusão.
No dia seguinte, todas as crianças apareceram com embrulhos debaixo do braço.
No recreio, todo mundo foi comprar lanche.
Na hora de pagar.
Teve gente que queria pagar com raquete de pingue-pongue, com papagaio de papel, com vidro de cola, com geléia de jabuticaba.
O Armandinho quis pagar um sanduíche de mortadela com o sanduíche de goiabada que ele tinha levado.
Teve gente que também levou galinha, pato, peru.
E, quando seu Lucas reclamava, a resposta era sempre a mesma:
– Ué, seu Lucas, é como se fosse dinheiro.
Mas seu Lucas ficou chateado mesmo quando apareceu o Caloca puxando um bode.
Aí, seu Lucas correu e chamou a diretora.
Dona Júlia veio e contaram pra ela o que estava acontecendo.
E sabe o que ela achou?
Pois achou que as crianças tinham razão.
– Sabe, seu Lucas – ela falou -, bode não é como se fosse dinheiro. Galinha também não é. Até aí o senhor tem razão. Mas bala também não é como se fosse dinheiro muito menos chiclete.
Seu Lucas se desculpava:
– É, mas eu não tive troco?
– Aí, o senhor anota, e no outro dia paga.
Os meninos fizeram uma festa, deram pique-pique pra dona Júlia e tudo.
Naquele dia, nem houve mais aula.
Mas o melhor de tudo é que todos do bairro ficaram sabendo do caso.
E, agora, seu Pedro da farmácia não dá mais compridos de troco, seu Ângelo do mercado não dá mais mercadoria como se fosse dinheiro.
Afinal, ninguém quer receber um bode em pagamento, como se fosse dinheiro. É, ou não é?
Autor desconhecido