O Príncipe Feliz

Na praça central da cidade erguia-se a estátua do Príncipe Feliz. Era uma autêntica jóia.

Um dia pousou aos pés da estátua uma formosa andorinha, que estava de passagem para o Egito. Era a sua última oportunidade, pois se havia atrasado ao querer convencer um junco a acompanhá-la na viagem. Mas o junco não pôde separar-se da terra, apesar do amor que o ligava à andorinha.

Olhando com mais atenção para a estátua, a andorinha notou que duas gotas lhe molhavam o rosto. Eram duas grossas lágrimas!

— Por que choras, Príncipe?

— Pelos pobres da cidade, amiguinha. Há tantos! Quando reinava, ninguém me contava nada do que sucedia, e os altos muros do Palácio não me deixavam ver. Mas desde que me colocaram aqui posso ver a pobreza e a miséria de tanta gente, e sinto-me angustiado. Queres ajudar-me?

— Estou de passagem para o Egito. – respondeu a andorinha.

Mas o Príncipe pediu-lhe tanto, que ela acabou por dizer que sim.

— Arranca o rubi da minha espada. Leva-o ali àquele casebre em frente. Lá vivem uns meninos pobres que não podem pagar o aluguer. Querem pô-los na rua.
A andorinha arrancou o rubi da espada e levou-o ao casebre.

— Olhem, a andorinha deixou-nos uma coisa – disse um dos meninos.

— É uma jóia. Podemos vendê-la e com o dinheiro pagar o aluguel da nossa casa – disse o mais velho.

Voltando para junto da estátua, a andorinha disse ao Príncipe:

— Terminei, Príncipe. Agora vou partir para o Egito.

— Espera um pouco, amiguinha. Há mais pobres na cidade. Leva uma safira a um escritor doente, que é tão pobre que nem pode pagar os remédios.

— Mas a safira é um dos teus olhos. Vais ficar caolho se o arrancares.

— Não faz mal! Anda, vai ajudá-lo.

A andorinha voou até a cabana que o Príncipe lhe tinha indicado. E a safira serviu para salvar o velho escritor.

Havia mais pobres na cidade. A andorinha tinha que voar para o Egito, onde passaria o inverno junto com as irmãs… mas o Príncipe pediu que lhe tirasse a outra safira do olho.

— Se o fizeres, ficarás cego!

— Não faz mal, andorinha.

Estava muito frio. O Inverno já se instalava. E a andorinha foi socorrer outros pobres. Arrancou uma a uma as lâminas de ouro da estátua. E, quando acabou, e dela já nada de valor restava, deitou-se aos pés do amigo. Não o abandonaria assim cego. E numa noite ainda mais fria a andorinha morreu, o que feriu profundamente o coração de chumbo do Príncipe Feliz.

Como a estátua sem os enfeites estava muito feia, um dia baixaram-na do pedestal e levaram-na para uma fundição. Mas ao fundi-la verificaram que o coração de chumbo resistia ao calor mais elevado. Deram-no então a outro ferreiro, que também não conseguiu fundi-lo.

— Tragam ao Céu o coração de chumbo do Príncipe Feliz e o corpo da Andorinha -ordenou Deus, sorrindo.

— Nunca na Terra ninguém demonstrou tanto amor pelos pobres – acrescentou. Por isso vão ficar eternamente a meu lado.

 

Adaptação de um conto de Oscar Wilde.

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