A medida que avançava pelo caminho, achou o ar muito parado, calmo demais. Mas ao mesmo tempo, havia uma névoa esquisita, um silêncio pesado. Parecia uma grande tristeza invisível. Ele se lembrou daquele plástico fininho que serve para cobrir os pratos de comida na geladeira. Aquele que vem num rolo e gruda complemente na borda do prato. Era como se alguém tivesse um plástico daqueles sobre aquela parte da floresta, grudando em cada galho, em cada folha. Não se podia ver, mas ali nada respirava direito.
Foi quando ele chegou em uma encruzilhada. Bem no meio dela, estava uma árvore com rabo de lagarto. A raiz sinuosa e grossa que saia de traz do tronco reto fazia uma cauda perfeita no chão, como a de um réptil ancestral. O tronco era enegrecido, sem galhos ou folhas, não muito alto, mas imponente…
– Nesse ponto, você tem mesmo que ter certeza de que quer continuar – disse a árvore guardiã, com uma voz muito profissional.
– Por que você chegou até aqui?
– Por que eu vi a Bruxa Bromélia – respondeu o menino.
– Por que você viu a Bruxa Bromélia?
– Por que virei o olho.
– Por que você virou o olho?
– Porque a Bruxa Bromélia me ensinou.
– Por que ela ensinou você a virar o olho?
– Para eu poder encontrar o rei da floresta?
– POR QUE SIM! – respondeu o menino com voz firme, olhando bem dentro dos olhos da árvore.
– Antigamente, eu ouvia cada resposta!! – disse a árvore guardiã, como
se estivesse falando consigo mesma – chegava muita gente aqui. Pessoas, bichos, pássaros, vindos de lugares distantes. Cada um tinha um motivo diferente para conhecer o rei. Um queria abraçar a árvore, porque tinha ouvido dizer que fazia bem para a saúde, outro queria tirar uma foto ao lado da árvore. Tinha também uma visita de escola.
O que eu mais detestava era gente que vinha para escrever o nome no tronco com canivete. Eu não deixava passar de jeito nenhum, mas isso já faz tempo – continuou a árvore guardiã. Quando a situação do rei ainda era boa, quando ele sabia o que estava fazendo.
A árvore guardiã deu um longo suspiro e ficou em silêncio. O menino arriscou:
– Por que a situação do rei deixou de ser boa? Agora o rei não sabe
mais o que faz?
– Minha função não é responder nada. Eu guardo a penúltima entrada
para a moradia do rei da floresta ainda falta à última.
Autor desconhecido