Antes de serem criados o mar, a terra e o céu, todas as coisas apresentavam um aspecto que dava o nome de caos – uma massa informe e confusa, mero peso morto, no qual, contudo, jaziam latentes as sementes das coisas. A terra, o mar e o ar estavam todos misturados. Dessa forma, a terra não era sólida, o mar não era líquido e o ara não era transparente.
Nesse imenso caos do mundo, vivia solitária Eurínome, deusa poderosa de uma exuberante beleza sedutora a quem foi dado o título de Mãe de Todos os Prazeres. Ela adorava dançar, mas, não tendo uma base par apoiar seus pés, acabou por separar o céu e o mar. Assim, começou a saltar e a dançar por sobre as ondas que criara até que encontrou, do lado norte do mundo, um vento forte. Eurínome gostou do vento. Acho seu frescor agradável e decidiu começar por ele a obra da criação. Apanhou, então, o fluido companheiro e, com as mãos enérgicas, esfregou-o até que se tornasse sólido. O vento se transformou numa serpente, Ofíon, que se estendeu aos pés de sua criadora.
Com o frio, Eurínome voltou a dançar para se aquecer. Ao vê-la dançando, a serpente apaixonou-se pela deusa e uniu-se a ela para gerar todas as coisas que hoje existem. Ela, então, transformou-se em pomba, sentou-se sobre as águas do mar e pôs um ovo, que continha a natureza. Então, Ofíon enrolou-se sete vezes ao redor do ovo para chocá-lo. Quando a casca rompeu, saíram o sol, a lua, os planetas, os outros astros, a terra, com suas montanhas e rios, as árvores, plantas, animais e os homens.
Eurínome e Ofíon pertenciam a raça dos Titãs, filhos da Terra e do Céu, que surgiram do Caos.
Extraído de: Livro de ouro da mitologia