Há cada nome

Há nomes que nem inventados. Mas são verdadeiros. Eu garanto, porque os coleciono e cato, um a um, pelas listas telefônicas do país.

A família Barriga, por exemplo, tão velha como Portugal. Já no tempo do nosso primeiro rei, o bravo D. Afonso Henriques, vivia, na província da Beira, um Martim de Barriga.

Que ninguém se admire.

Se há tantos Costas, porque é que não há-de haver alguns Barrigas?

A família cresceu, espalhou-se e chegou aos nossos dias. Conheci, há tempos, uma senhora, descendente do remoto beirão Martim de Barriga. Chama-se Maria das Dores, mais precisamente Maria das Dores de Barriga, o que talvez lhe cause alguma indisposição.

E o caso do Dr. Pedro Branco que se casou com uma senhora de apelido Feijão e tiveram um filho Feijão Branco?

Mais ou menos semelhante, e também verdadeiro, foi o caso ou casamento que uniu D. Maria José Coelho com o Engenheiro Manuel da Silva Guisado. O filho do casal chama-se Abel Coelho Guisado e não se importa.

Nem tem nada com que importar-se, porque, verdade verdadinha, há nomes muito mais esquisitos.

Contou-me a minha avó que um casal já com muitos filhos foi brindado com mais uma criança, um perfeito rapazinho que havia de se chamar…

– André – disse o pai.

– João – disse a mãe.

– Fernando – disse um avô.

– Camilo – disse o outro avô.

– Manuel João – disse uma avó.

– João Manuel – disse a outra avó.

Não se entenderam.

Quando, na cerimônia do batizado, foi preciso assentar o nome do bebê no livro dos registros, ainda a família não tinha chegado a uma decisão. Até que a mãe, para safar a encrenca, ditou ao sacristão, que estava de pena suspensa sobre o livro dos registros:

– Olhe, senhor sacristão, o nome do meu filho fica João, até ver.

E o obediente sacristão escreveu assim o nome do rapaz: “João Até Ver Martins”.

Mas, para o resto da vida, ficou só conhecido pelo João Até Ver.

– Pouco importa – concluía a minha avó, que esta história me contou. – O que vale é que cada um seja conhecido pelo que de bom fizer.

Se for pelo que de mal fizer, então, sim, já terá razão para envergonhar-se do nome.

Grandes verdades ensinava a minha avó, de nome Olívia Torrado, que, todos concordarão, não é um nome assim muito vulgar…

António Torrado 

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