Era uma vez um velho carvalho que já vivia há muito tempo na floresta. Muitos anos antes uma grande tempestade varrera a floresta, deixando o carvalho quebrado e feio. Não era mais altivo e belo como as outras árvores. A primavera cobria sua feiúra com novas folhas verdes; no outono, as folhas se transformavam num belo manto carmim. Mas os ventos da floresta sempre sopravam, carregando as folhas para longe. E assim, nada restava para disfarçar a sua feiúra.
Passaram-se muitos e muitos anos e o velho carvalho começou a se sentir meio vazio por dentro. Sentia o coração também ferido, como o corpo. Quando ele já estava muito, muito velho, um vento de outono passou suspirando. O carvalho acabou se lamentando:
– Ninguém me quer. Não tenho mais nenhuma utilidade neste mundo!
Toc, toc, tororoctoc, toc! Era o Senhor Pica-Pau de Cabeça Vermelha, bicando o tronco do velho carvalho. Toc-toc! Foi martelando e furando, até que fez uma portinha de entrada para sua residência de inverno, numa parte oca da árvore. Ele havia encontrado um salão pronto, cheio de bichinhos para ele e sua família comerem, quando chegasse o frio. As paredes da casa eram quentinhas, tudo muito arrumadinho e aconchegante.
– Que felicidade ter encontrado esta árvore oca! Fico tão contente! Cantava o Senhor Pica-Pau de Cabeça Vermelha.
Schlup! Schlup! Era o Bob Esquilo. Ficou correndo pelo tronco do velho carvalho, até que achou um buraquinho redondo, que seria sua janela de frente. Bob Esquilo espiou para dentro.
– Ah, como era confortável e aconchegante a casinha que ele viu! Forrou-a com musgo, e nas protuberâncias que formavam prateleirinhas, empilhou pilhas e pilhas de nozes, prontas para os banquetes quando chegasse o frio. Ia ser ótimo morar lá, agasalhado no seu casaco de peles e bem alimentado. Ficaria seguramente abrigado, até a chegada da primavera.
– Que felicidade ter encontrado esta árvore oca! Fico tão agradecido! Disse Bob Esquilo.
Então, uma coisa estranha aconteceu com a árvore. As asinhas do passarinho batendo animadas e o coração alegre do esquilinho aqueceram-na por dentro. O coração do velho carvalho inchou de alegria.
Em vez de suspirar com o vento, seus ramos cantavam de felicidade. As gotas de chuva do outono, já congeladas, pendiam dos seus dedos de galhos como refulgentes diamantes. A neve cobriu o seu corpo como um magnífico manto branco. E à noite a luz das estrelas, e de dia os raios de sol mantinham brilhante coroa sobre sua cabeça.
Em toda floresta, não havia árvore mais feliz, nem mais bela que o velho carvalho.
Autor: William J. Bennet
Extraído de: Livro das virtudes II
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira