Bom pra tosse

A mãe do Alvinho andava meio zangada, que o Alvinho estava muito vagabundo, não estudava nada de nada, só queria ouvir música e comer sucrilhos. E ele repetiu o ano por causa de uma tal de equação de 1° grau.

Então a mãe dele foi lá na escola e ficou um tempão conversando com a psicóloga.

O Alvinho ficou esperando na sala de espera e só ouvia dona Branca dizer:

– Paciência? Estou cansada de ter paciência.

E a psicóloga falava baixinho que ele não ouvia nada.
Aí dona Branca saiu e catou o Alvinho pelo braço e foi até em casa resmungando, que essas psicólogas não têm o que fazer e só querem que as mães tenham paciência e que ela já estava cansada de aturar essas crianças, e que o Alvinho tinha repetido o ano porque era muito sem vergonha e vagabundo e etc e tal.

E que a psicóloga quando tivesse os filhos dela ia ver o que é bom pra tosse.

E que o Alvinho de agora em diante ia entrar num cortado: pra começo de conversa ele ia trabalhar, pra ver como é duro ganhar dinheiro, que o pai dele estava ficando velho de tanto trabalhar e que ela também; e que ela ia arranjar um emprego pra botar ele no batente.

E ela arranjou mesmo. Um emprego de entregador do supermercado.
O Alvinho, que remédio! Foi trabalhar.

Nos primeiros dias a família inteira queria saber o que ele estava achando.
A mãe perguntava:

– Como é que foi, Alvinho?

E o Alvinho respondia:

– Bem, ué…

O pai perguntava:

– Então, meu filho, o que é que você está achando? Dureza não é?

O Alvinho respondia:

– É ééé…

Mas ninguém conseguia que ele falasse muito.

Todo mundo achava que ele estava arrependido da vagabundagem que ele tinha feito o ano todo.

Dona Branca dizia em segredo pras amigas:

– Desta vez o Alvinho conserta!

Vocês vão ver!

Até que chegou a hora de fazer matrícula do Alvinho no colégio.

Um dia dona Branca chamou o filho:

– Olha aqui, Alvinho, amanhã você não vai trabalhar. É preciso avisar seu chefe. Nós vamos ao colégio fazer sua matrícula.

Alvinho olhou espantado para a mãe:

– Matrícula? Que matrícula? Eu não vou mais pra escola, não!

– Que é isso, meu filho? Como não vai pra escola?

– Pois é, resolvi – disse o Alvinho – estou achando ótimo esse negócio de trabalhar. Eu fico o dia inteiro na rua, cada vez que eu vou fazer uma entrega eu vou pra um lugar diferente. Conheço uma porção de gente nova, ganho um bom dinheirinho, me encho de sorvete e de chocolate o dia inteiro, não me amolo com lição disso, lição daquilo, não tenho mais que me incomodar com equação de 1° grau estou achando ótimo.

Dona Branca passou o dia inteiro no colégio conversando com a psicóloga.
O Alvinho ficou na sala de espera esperando.

E só ouvia dona Branca dizer:

– Paciência? Estou cansada de ter paciência.

Ruth Rocha

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