Há muito, muito tempo, um grupo de índios ia andando por uma trilha que levava a uma aldeia. De repente, um coelho saltou de uma moita e parou na frente deles.
Os índios pararam, pois o coelho se sentou no meio da trilha e ali ficou imóvel. Atiraram flechas no coelho e as flechas saíram sem manchas de sangue.
Puxaram o arco para atirar mais flechas, mas o coelho tinha desaparecido. Em seu lugar havia um homem, parado no meio da trilha. Parecia muito fraco e doente.
O velho pediu comida e abrigo. Os índios não deram atenção e continuaram seu caminho. O velho seguiu atrás deles, a passo lento, até chegar às tendas da aldeia. Em frente a cada tenda, havia um mastro com uma pele de animal estendida, que era o símbolo do clã que morava na tenda.
O velho parou em frente à tenda com a pele do lobo e pediu para entrar, mas não deixaram:
– Não queremos ninguém doente aqui – disseram.
Seguiu para outra tenda. Nesta havia um caso de tartaruga pendurado no mastro. Mas a família não o deixou entrar.
Pediu para entrar na tenda com a pele de castor e o mandaram embora. E foi mandado embora também das tendas dos clãs do veado, do condor, da garça e da saracura.
Ao ver uma tenda com a pele do urso, pensou:
– Vou pedir abrigo mais uma vez. Na tenda do urso morava um mulher velha que trouxe comida e estendeu peles para ele se deitar.
O velho contou que estava muito doente e pediu-lhe para buscar certas plantas na floresta que iriam curá-lo. Ela seguiu as instruções e em pouco tempo ele estava curado.
Alguns dias depois, o velho ficou doente de novo. Disse à mulher para buscar certas folhas e raízes na mata, ela obedeceu e logo ele se curou.
O velho ficou doente muitas vezes mais, cada vez uma doença diferente. A cada nova doença, ele dizia à mulher que ervas e raízes devia colher, e logo ficava curado.
Em pouco tempo, a mulher do Urso sabia curar mais doenças que qualquer pessoa na aldeia.
Um dia o velho disse à mulher que tinha sido enviado pelo Grande Espírito para ensinar à tribo os segredos da cura.
– Eu cheguei doente e faminto em muitas tendas. Ninguém abriu o pano para eu passar. Só você afastou o pano da porta e me fez entrar. Você é do clã do urso. Os outros clãs terão que vir ao Urso para se curar. Você deve ensinar a todos os clãs as plantas, folhas e raízes que curam. E o Urso será o maior de todos os clãs.
A mulher quis agradecer ao Grande Espírito pelo conhecimento da cura, mas ele havia desaparecido. Foi à porta da tenda e não havia ninguém. Apenas um coelho corria lépido pela trilha.
Lenda dos índios iroqueses
Recontada por Mabel Powers