Como os quatro ventos criaram pássaros

Faz muito tempo, quando ainda havia poucos pássaros na Terra, os quatro ventos irmãos saíram a viajar. Despediram-se do pai Sol e cada um tomou o seu caminho.

O vento Oeste correu com grandes passos pelo mundo e chegou ao litoral do mar, tomou um grande impulso e voou por cima das ondas. Que beleza, como a água espumava a seus pés! Ele não parava de soprar fazendo as ondas subirem cada vez mais alto, até terem coroas brancas de espuma. Essa espuma ele fazia voar pelos ares e se divertia cada vez mais. Mas hei! Uma nuvem e espuma subiu no ar e foi flutuando até desaparecer de vista.

– Com todas as ondas do mar – murmurou o vento Oeste, enquanto olhava para aquele pedaço de espuma. – Quando será que este serzinho de espuma flutuante descerá à água outra vez? – Depois saiu da água e retomou o seu caminho.

O vento Leste, depois de uma grande viagem, chegou a uma floresta escura. Isso lhe agradou muito, pois gostava do farfalhar das folhas. Deslizou entre os troncos lisos e as copas que se curvavam, e em toda parte por onde passava, as folhas faziam barulho e os galhos lhe acenavam. Nisso viu um galhinho com duas folhinhas que batiam uma na outra com a maior alegria. O vento Leste teve que rir e com isto soltou um vendaval no meio da floresta, que arrancou o galhinho com as duas folhas, que voou por entre as copas das árvores.

– Com todos os cipós sussurrantes! – soprou o vento Leste – quando será que essa matraquinha vai sair das copas das árvores? – Depois inclinou-se para a frente e continuou sua viagem através da floresta.

O vento Sul havia chegado a um país em que já era outono. As plantas estavam secas e empoeiradas e, quando o selvagem vento Sul passou entre as árvores, muitas folhas caíram ao chão. Nisso descobriu um montinho de folhas secas amontoadas, e isso lhe deu vontade de brincar. Soprou-as com força e elas, assustadas, voaram para todos os lados. Mas hei! O que era aquilo? Parecia uma bola de folhas rolando pelo chão, afastando-se cada vez mais.

– Com todas as lenhas secas! – resmungou o vento Sul. – Quando será que essas folhas vão parar de rolar? – Então se virou, encheu-se de ar e saiu correndo dali!

O jovem vento Norte havia chegado a um país onde reinava a primavera. Que lindo estava tudo! O verde aparecendo em todas as partes e muitas flores. Com cuidado, para não estragar nenhum brotinho, o suave filho do Sol voava entre as plantas, que queriam todas cumprimentá-lo. Entrando cada vez mais naquele país, ele descobriu a chegada do verão, as frutas começando a amadurecer. E viu um campo de trigo com suas hastes douradas balançando à luz do Sol. Sonhador, ele guiou seus passos até lá. Que lindas as borboletas, e as abelhas zumbiam de um lado à outro.

– Que vejo ali? Parecem pequenos sóis! – cantou suavemente – brilham como ouro e enviam seus raios a todas as partes. Eram as espigas maduras brilhando à luz do Sol. – Querido pai Sol, onde eu for, o seu calor sempre chega ao meu coração – sussurrou o vento.

Com isso, o hálito quente do vento Norte passou por cima do campo de trigo e as hastes começaram a mover-se como pequenas ondas. Uma dessas pequenas ondas soltou-se das outras e, como se tivesse criado asas, elevou-se aos céus, transformando-se em belos sons à luz do Sol.

– Com todo o doce calor do Sol – sussurrou o vento Norte. – Que milagres são estes que vejo? Parece que aquilo que o pai Sol deu de presente a Terra está voltando ao céu? – E ficou ainda por bastante tempo entre as espigas e as flores, antes de retornar à sua viagem tranqüila.

À noite, os quatro irmãos voltaram para casa e o pai Sol perguntou:

– Meus filhos ventos, onde estiveram?

– Pai, eu estive lá onde há ondas ondulantes, – disse o vento Oeste.

– Vento Oeste, o que fizeste lá?

– Pai, corri atrás das ondas, até que se cobriram de espuma e um floco de espuma voou para o ar e ninguém sabe onde foi.

– Muito bem, vento Oeste, pois aqui chegou um pássaro branco que move suas asas como ondas. As pessoas daquele país deram-lhe o nome de gaivota.

– Pai, eu fui lá onde há florestas verdes. Os galhos acenavam, chamando-me para entrar – disse o vento Leste.

– Vento Leste, que fizeste lá?

– Pai, arranquei com meu sopro duas folhinhas que batiam palmas, e batendo palmas voaram, e não sei aonde foram!

– Fizeste bem! Chegou aqui um pássaro batendo duas asas como duas folhinhas. As pessoas daquele país deram-lhe o nome de rolinha.

– Pai – disse o vento Sul – estive lá onde as folhas secas se espalham por todas as partes.

– E que fizeste lá?

– Pai, lutei com um amontoado de folhas, e de repente uma mão cheia delas começou a girar na minha frente e saiu rolando até desaparecer de vista.

– Fizeste bem. Aqui chegou um pássaro cacarejando pelo campo como uma bola de folhas secas. As pessoas deram-lhe o nome de perdiz.

– Pai, – disse o jovem vento Norte, – estive lá onde as espigas douradas brilham.

– E que fizeste lá, querido filho?

– Pai, vi a sua luz brilhando nas hastes e cumprimentei-as suavemente, e nisso vi uma borboleta de luz elevando-se, cada vez mais alto, e acompanhei-a com os olhos até perdê-la de vista. Creio que quis levar-lhe meus cumprimentos, mas não sei se ele encontrou o céu.

– Querido filho, fizeste bem. Um pequeno passarinho veio aqui, suas asinhas tremulavam como seu hálito quente sobre os campos e sua vozinha jubilava, agradecendo-me o calor que lhe pus no coraçãozinho. E por isso eu mesmo lhe dei o nome de cotovia.

Assim, as gaivotas são aves da água; as perdizes, aves da terra; as rolinhas vivem com o ar e o canto do vento, e as cotovias, junto com todos os pássaros cantores, são as aves do Sol.

Autor: Dan Udo de Haes

Extraído de: Ventos e pipas

Coletado po Karin E. Stasch

Tradução e adaptação: Karin E. Stasch

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
0
Would love your thoughts, please comment.x
Scroll to Top