O presente do pardal

Era uma vez uma velha que morava com o marido à beira de uma floresta. O velho tinha um coração bondoso e seu bichinho de estimação era um pardal, com o qual brincava todas as manhãs e todas as tardes. Dava ao pardal migalhas de seu próprio prato e lhe cantava canções. A esposa, por seu lado, vivia se queixando da criatura. – É barulhenta! Come demais! Suja a casa! – resmungava. Nada disso era verdade, mas a velha costumava se queixar de tudo que existia sob o sol.

Um dia, o velho saiu para trabalhar no campo. Sua esposa preparou um pouco de goma e foi buscar as roupas para lavar, mas, quando voltou, a goma sumira. Praguejou, se queixou e então o pequeno pardal voou até ela, esticou as asas, fez-lhe uma reverência e disse: – Eu comi a goma; sinto muito, mas pensei que era para mim!

A velha, ao ouvir isso, ficou uma fera. – Você come tudo que há nesta casa! – berrou à ave e dirigiu-lhe nova série de impropérios. Então, num assomo de raiva, agarrou a pobrezinha com uma das mãos, uma tesoura com a outra e cortou-lhe a língua. – Vamos ver se você consegue comer sem língua – gritou – e se consegue cantar tão feliz! – A pobre ave voou para longe, chorando de dor.

À tarde, o velho voltou para casa. Ao ver que o pardal não o veio saudar, ficou preocupado e alarmou-se, ao constatar que a avezinha não atendia aos seus chamados. Deve ter ido para longe – a esposa falou -, que bichinho mais ingrato! Depois de todo o bem que lhe fizemos. – O velho não acreditou nas palavras da mulher e crivou-a de perguntas. Afinal, ela contou o que sucedera.

-Oh! Não!- o velho exclamou horrorizado. – Você lhe cortou a língua! – e quis precipitar-se para fora de casa, em busca da pobre ave, mas, àquela altura, já anoitecera e sabia que seria inútil perscrutar a escuridão. Então esperou que o dia amanhecesse e, assim que nasceu a aurora, correu ao bosque, assobiando e chamando o pardal. Pouco depois, a ave surgiu de uma moita de bambus. O velho desculpou-se insistentemente pelo que a esposa fizera e perguntou à ave se precisava de ajuda.

– Por favor, não se preocupe – respondeu o pardal sorrindo. O velho viu que havia nascido uma nova língua. – Quero convidá-lo para vir à minha casa, no bosque – disse o pardal ao velho. E então ele o seguiu até o fundo da floresta. Lá deparou com a mais bela casa que já vira e compreendeu, imediatamente, que seu bichinho de estimação não era um simples pardal, mas uma fada.

A fada-pardal apresentou o velho a toda a sua família, que lhe ofereceu uma magnífica refeição. As filhas da fada-pardal tocaram e dançaram e o velho ficou tão entretido que não viu o tempo passar. Afinal, notou que o sol se deitava no horizonte, – Nossa – exclamou – , preciso voltar para casa! – Ergueu-se, cumprimentou a fada-pardal com uma reverência, agradecendo-lhe a hospitalidade.

A ave lhe apresentou duas caixas, uma grande e outra pequena. – Por favor, leve uma delas de presente – disse ao velho. Como não podia recusar, ecolheu a menor. E correu para casa.

A velha estava furiosa com a demora do marido. E quando ele lhe contou sobre o dia maravilhoso que passara na casa do pardal, ficou ainda mais zangada. – Você me deixou sozinha, trabalhando o dia inteiro como uma escrava – queixou-se, enquanto você se divertia.

O velho mais do que depressa mostrou-lhe a caixa . – Olha o presente que o pardal me deu! – e falou à esposa sobre as duas caixas que a ave lhe oferecera. A velha abriu rapidamente o presente, e para surpresa sua, jorraram moedas de ouro.

– Que presente maravilhoso! – exclamou o velho.

– Quantas mais moedas não caberiam na caixa maior!- a mulher lamentou. E durante toda a noite não consegui pensar em outra coisa se não na caixa maior cheia de ouro.

Na manhã seguinte, perguntou ao marido como havia chegado à casa do pardal. – Não vá lá!- avisou-a. – Lembre-se que você lhe cortou a língua! – Mas a velha, pensando somente no ouro, fez ouvidos moucos à admoestação do marido, e correu para a casa do pardal. Este ficou surpreso ao ver a velha, e toda a sua família quis punir aquela mulher cruel. Mas a fada-pardal era bondosa e acolheu a velha gentilmente.

– Meu marido me mandou buscar a caixa grande que ele deixou aqui – declarou a velha esposa. Então a fada-pardal foi buscar a caixa e entregou à velha que, mais que depressa, a pôs às costa e partiu. A caixa era extremamente pesada e a velha arfava mais e mais à medida que avançava pela floresta. Porém, a lembrança da grande riqueza que carregava às costas, dava lhe a ânimo para prosseguir. Finalmente, fez uma pausa para descansar e decidiu abrir a caixa. Desamarrou as cordas e espiou lá dentro.

Na mesma hora, saltou da caixa um bando de demônios que pularam sobre a velha e lhe deram uma bela sova. Ela gritava e gemia e fugiu o mais depressa que podia, mas os monstros a perseguiam, mordendo-lhe o calcanhar e rasgando-lhe a roupa. Saiu da floresta e ainda os diabinhos a atacam. Então, a distância, viu o marido trabalhando no campo. Correu para ele e escondeu-se às suas costas.

– Proteja-me!- implorou. O pardal esta tentando me matar! – gritou. – Que ave cruel e malvada!

Não – respondeu o velho, repreendendo a esposa. – Eu lhe disse para não ir procurá-la! – Os monstros rodearam agressivamente o casal. – Você é que é malvada e por isso os demônios a atacaram! – ele disse exasperado.

A velha nada respondeu. Somente tremia, agarrada às pernas do marido, até que os monstros, finalmente, regressaram à floresta. Porém, desse dia em diante, ela mudou de comportamento. Não se queixava mais, não perdia o controle e parou de gritar com as crianças na ladeia. A cada dia que passava tornava-se mais bondosa e gentil. E assim ela e o marido viveram felizes para o resto de seus dias, cuidando carinhosamente dos presentes que a fada-pardal lhes dera – ouro, na caixa menor, e sabedoria, na caixa maior.

Conto Japonês

Extraído de: …e foram felizes para sempre

Autor Allan B. Chinen

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