Nos primórdios dos tempos, o urubu-rei foi dono do fogo. Por isso, os Tembés secavam a carne, expondo-a ao calor do sol. Então resolveram roubar o fogo do urubu-rei.
Começaram por matar uma anta. Deixaram-na estendida no chão e, depois de três dias, o bicho estava podre, bulindo de vermes.
Vendo a carniça lá embaixo, o urubu-rei desceu acompanhado de seus parentes. Para melhor se banquetearem, despiram as vestimentas de penas, assumindo a forma de gente. Tinham trazido um tição aceso e com ele fizeram uma grande fogueira. Cataram os vermes, envolveram-nos em folhas do mato e assaram.
Os Tembé, que se mantinham escondidos, à espreita, tocaram para lá. Mas os urubus bateram asas e levaram consigo o fogo para um lugar seguro. Assim, os índios perderam o trabalho de tantos dias. A seguir, fizeram uma tocaia ao pé da carniça e um velho pajé aí se escondeu.
Os urubus voltaram àquele lugar e fizeram seu fogo, desta vez bem próximo da tocaia.
– Quando eu fugir, levarei comigo um tição acesso!, disse o pajé consigo mesmo.
Quando os urubus despiram sua vestimenta de penas, viraram homens novamente e se puseram a assar os vermes, ele deu um pulo para frente e os bichos ficaram espavoridos. Correram para suas vestes de penas e começaram a vestir-se atabalhoadamente. O velho aproveitou-se da confusão, pegou num tição aceso e fugiu. Os pássaros juntaram o resto do fogo e voaram, levando-o consigo.
Então, o pajé ateou fogo em todas as árvores com as quais hoje se faz fogo e que são: urucuíva, cuatipuruiva, ivira e muitas outras.
Lenda contada por Curt Nimuendaju Unkel em “Mitos dos índios Tembé do Pará e Maranhão”.