Uma criança passou andando. Uma pedra estava no caminho. A criança levantou a pedra e jogou-a no ar. A pedra caiu ao lado de uma moita de bambu. A criança ao passar do lado do bambu, pegou uma das varas, puxou-a para baixo, e soltando-a, fez com que ela, de um salto, voltasse para sua posição inicial. O bambu suspirou um pouco. A criança continuou andando.
— Quem é você? — perguntou a moita de bambu à pedra. — Você caiu do céu?
— Eu sou a pedra — ela respondeu.— Eu não vim do céu, eu sou da terra. A criança me jogou para cima.
A moita de bambu perguntou: — Você também tem filhos?
A pedra resmungou: — Não preciso de filhos, porque não morro. As pessoas se aborrecem com isso. Seria melhor que a vida delas fosse como a minha.
A moita de bambu pensou um pouco. Depois abanou a cabeça.
Isso não seria bom. A vida dos homens teria que ser como a minha.
— Você tem que morrer?
A moita de bambu fez que sim com a cabeça. Ela se movia de um lado para o outro, pois começara a soprar um vento que sacudia a moita. Ela inclinou-se.
— Sim, eu tenho que morrer.
— Eu vivo eternamente — retrucou orgulhosamente a pedra. — Não me preocupo com o vento nem com o tempo, frio ou calor. Eles não me fazem nada. Eu não os sinto. Não sinto dores e não me preocupo com nada. Não dou nada e não recebo nada. Eu sou assim. É assim que deveria ser a vida humana!
Um grande papagaio Araraúna chegou voando e sentou-se na moita de bambu, que se curvou sob o peso. As gotas de chuva cobriam a penugem azulada do pássaro como pequenas pérolas. A moita de bambu suspirou.
— Eu sinto a chuva e o vento — disse ela. — Eu me curvo, mas levanto novamente. Com as minhas raízes sugo força da terra. Sou pequena e cresço. Sou fraca, mas ficarei forte. Um dia chegarão os homens e me cortarão . Ou apodrecerei.
— Então você estará morta. — disse a pedra.
— Sim, então estarei morta. Mas antes que morra, terei filhos. Eles continuarão vivendo. Eles também terão filhos que continuarão se espalhando pelo mundo. Assim isso seguirá sempre dessa forma. Vivo nos meus filhos. Creio que é melhor para o ser humano. Se sua vida for igual a minha.
A pedra não entendeu. Continuava firme na sua opinião, mas não sabia mais o que dizer. Então a criança voltou. O papagaio voou. A criança jogou a pedra no riacho. Depois cortou um rebento do bambu e fez com ele uma vara de pesca.
A vida do ser humano iguala-se ao bambu.
Conto de fadas brasileiro
Autor: Karin E. Stasch
Extraído de: A Pérola – contos sobre a vida, a morte e o destino