Era uma vez um menino que se chamava Yunus e muito desejava o conhecimento. E, em busca dele, andou e andou, até que, finalmente, encontrou um grande mestre e este o aceitou por discípulo.
O tal mestre era cego e tinha uma mulher que o guiava. Ela era os seus olhos. Yunus foi viver com ele e os outros discípulos. O lugar era simples; Pequenas casas que se organizavam em torno de um amplo pátio. E o mestre deu-lhe permissão para varrer diariamente o pátio central. Assim fazia então Yunus: Todos os dias, com a vassoura na mão, trabalhava.
De manhã, o mestre atravessava o pátio. Saía de sua de sua casa, e o atravessava, sempre guiado pela mulher, até o outro lado, onde ministrava os seus ensinamentos aos outros discípulos. Yunus, então, parava de varrer e, ansioso, esperava que o mestre lhe dirigisse uma palavra qualquer. Mas ele se ia, sem nada dizer. Yunus voltava a varrer e a esperar.
Assim se passaram sete anos, sem nada mudar.
Yunus começou a se inquietar. Pensava:
– Vim pra cá para buscar o conhecimento. Mas até agora nada aprendi. O mestre me despreza. Nunca permite juntar-me aos outros e só me permite varrer. Mas talvez eu não sirva para nada mesmo. Talvez não seja inteligente o bastante para compreender o seu conhecimento… E etc, etc.
Ia assim pensando Yunus quando de repente lhe ocorreu:
– Ah, talvez o mestre esteja me ensinando à humildade. Claro! Como é que eu não percebi antes?
E Yunus agora, motivado, voltou a varrer e a varrer, com entusiasmo. E todas as manhãs o mestre atravessava o pátio, guiado por sua mulher, e Yunus esperava que ele lhe dirigisse a palavra, ansiosamente, mas o mestre passava sem sequer percebê-lo.
Um dia, Yunus começou a cantar enquanto varria, só para ouvir a voz humana.
E varrendo e cantando, varrendo e cantando, seguiu.
Mais sete anos se passaram e Yunus enfrentou uma nova crise:
– Afinal, o que tenho eu aprendido aqui? Tenho passado toda a minha vida varrendo este pátio, enquanto os outros discípulos podem desenvolver o espírito e a mente, e ampliar a consciência, ouvindo o mestre. Mas a mim não é dada a menor chance. Também vai ver que não sou bom o bastante para juntar-me aos outros. Vai ver que não sirvo mesmo para nada…
E, em meio a tais pensamentos, Yunus não dormiu aquela noite. Já amanhecia quando afinal lhe ocorreu:
– Ah! Já sei, o mestre quer ensinar-me com isso a ter paciência.
Voltou então, a varrer mais motivado. E novamente o mestre atravessou o pátio guiado por sua mulher, e Yunus esperou que ele lhe dirigisse a palavra, mas ele nem sequer se deu conta dele.
E Yunus, varreu, varreu, andando sem parar. Cantou só para ouvir a voz humana Cantava qualquer coisa que lhe viesse à cabeça.
Sete anos assim se passaram, quando Yunus experimentou mais uma crise. E esta foi tão forte, que não viu outra saída senão abandonar o mestre e sua comunidade e, no meio da noite, Yunus se foi, sem nada dizer.
Ele foi andando, andando, sem parar. Muitos dias, Yunus andou sempre em frente.
Atravessou um deserto, andando e andando até que, caiu de fome, cansaço e sede. Ele pensou que a morte havia chegado, o fim, quando desmaiou. Voltou a si atendido por um homem muito alto que o carregou nos braços para a sua aldeia, deu-lhe de comer e beber e o fez descansar num leito macio.
A aldeia em que agora Yunus estava era um lugar especial. Havia flores e jardins por todos os lados, seus habitantes eram muito alegres e generosos e tudo dividiam entre si.
Depois de conviver ali alguns dias entre aquelas pessoas de ânimo maravilhoso, Yunus foi convidado a ficar. Mas curioso, quis saber por que eram assim tão agradáveis, sinceras e amigas. Perguntou-lhes:
– Como conseguem ser tão alegres e bons?
O homem que levara Yunus para a aldeia respondeu:
– Sabe? Não fomos sempre assim. Éramos antes tristes como na maioria das aldeias e cidades. Éramos egoístas, também, violentos, amargos e rancorosos. Mas um dia o vento nos trouxe uma canção que, não sabíamos de onde vinha, e esta canção nos transformou no que hoje somos.
– Uma canção? – perguntou Yunus – Mas que canção é esta, com tamanho poder? Cante-a para mim.
E todos cantaram para Yunus a canção que os transformara e que ali chegava trazida pelo vento.
Yunus reconheceu:
– Está é a minha canção. A canção que eu cantava enquanto varria o pátio, só para ouvir uma voz humana.
Então Yunus se despediu da aldeia e votou correndo para a comunidade. Correndo sempre em frente, ele atravessou outra vez o deserto e finalmente chegou.
Era noite já, e quem o recebeu foi a mulher do mestre, que lhe disse:
– Oh! Yunus, sentimos tanto a sua falta. Seu mestre muito se entristeceu com a sua ausência. E durante muitos dias nos lamentamos. Até que nos acostumamos a viver sem você. Agora não tenho certeza se ele o aceitará de volta. Mas vamos fazer o seguinte:
– Como já é noite, você se deita no pátio e dorme. De manhã, atravessaremos o pátio, como fazemos todos os dias, e eu darei um jeito para que ele tropece em você. Se ele disser: “Quem é esse que esta aí?”, você parte, porque isso significa que seu mestre já não o reconhece mais. Entretanto se disser: “Oh! Yunus que bom que você esta de volta!”, aí você pode ficar.
Yunus assim fêz.
De manhã, quando o mestre atravessava o pátio, tropeçou em seu corpo estendido no caminho e disse:
– Oh! Yunus que bom que você está de volta.
Yunus pegou sua vassoura e começou a varrer, a varrer e a cantar. Sua canção ia sendo levada pelo vento. Misturava-se à poeira, espalhando-se por todos os lados, até nas folhas e flores, nas árvores e na grama, penetrando pelas frestas das portas e janelas, invadindo tudo, todos os lares e todos os corações.
Autor desconhecido