A história de São Pedro

Depois das simpatias de Santo Antônio e da história de São João, trazemos alguma coisa sobre o terceiro santo “junino”, São Pedro, que por sua origem humilde, simples, quase sempre freqüenta as histórias populares como o teimoso, o ignorante, o falastrão, a quem Jesus sempre dá lições. Já li mais de vinte histórias dessas. Talvez essas histórias tenham surgido por causa da identificação que as pessoas sentem com esse homem do povo, de cabeça dura e coração grande.

E procurando algo sobre São Pedro, entendi por que o mais humilde dos discípulos acabou sendo aquele que hoje abre as portas do céu. Foi o primeiro dos apóstolos a reconhecer Jesus como o filho de Deus. Era humano, profundamente humano, pois adotou atitudes nada “santas”, tendo puxado da espada para defender Jesus, tendo negado o Cristo três vezes, mas mesmo assim, e talvez por causa disso, tenha sido aquele a quem primeiro Jesus apareceu, quando ressuscitou. E a quem chamou, na primeira vez que se encontraram, de “pedra” (Cefas, em aramaico, Petros em grego) e disse que sobre ele edificaria sua fé e sua igreja.

Mas enfim, Pedro, o pescador cabeça-dura hoje toma conta da entrada do céu.
E mais: ele é o responsável por fazer chover, controla o tempo. Quando troveja, é que ele está arrastando os móveis do céu para começar a faxina. E depois, toca a jogar água pra lavar o chão, que transborda do céu e acaba chovendo na terra.
E isso é pura verdade. Meu avô Jerônimo, pescador de profissão, conhecedor do jeito do mar e das manhas dos peixes foi quem me contou.

Vô Jerônimo ia todo ano, enquanto viveu, na procissão de São Pedro, padroeiro dos pescadores, e depois assistia à missa na pequena capela, construída perto da Colônia Z1, de pescadores, na Ilha do Governador, cidade do Rio de Janeiro. E assistia à missa da porta da igreja lotada. Um dia, curiosa, perguntei o porquê. Ele me disse com o jeito concentrado que só era usado quando tinha que falar sério: “é que sou muito grande, se ficar lá dentro tapo a visão de muita gente. E São Pedro me vê onde eu estiver”. E era grande, mesmo. O maior homem do mundo na minha visão de criança.

Mas voltando a São Pedro e deixando meu Vô de lado: ele é o padroeiro das viúvas também. Talvez por amparar aquelas que perdem seus homens na lida…
Dizem que os festejos de São Pedro são mais discretos, porque as pessoas já estão cansadas das festas de outros santos.

Mas sei não… Um santo que é festejado com a subida no pau de sebo, que requer força, habilidade e astúcia… Que é festejado com queimas de fogos monumentais – quem, morando perto do mar, de uma colônia de pescadores, nunca foi acordado pela “Alvorada de São Pedro”, uma queima de fogos ensurdecedora, às seis da manhã? Fazendo parte dos festejos a procissão de São Pedro, precedida por foguetório anunciando sua chegada – seja por terra, seja por mar. Não chamaria isso necessariamente de discreto.

A gente pode perguntar se isso é verdade, quando estiver batendo às portas do céu e o São Pedro atender. Mas primeiro espere ele avaliar se você pode entrar ou não…

 

por Maísa Guapyassú, a partir de coisas ouvidas aqui e ali, e dessa vez, do que vi, vivi e ouvi do meu Vô Jerônimo.

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