A aventura de Chu

Era uma vez dois amigos que viajavam pelo mundo. Heng e Chu passaram por países desconhecidos, rios, vales e montanhas.

Um dia, quando atravessaram uma floresta, viram que logo ia desabar uma tempestade. Procuraram abrigo e viram ao longe um velho templo em ruínas. Correram para lá e foram recebidos por um velho monge muito sorridente.
O monge lhes disse:

– Amigos, quero que vocês me acompanhem até a sala dos fundos do templo. Lá está representada uma obra de arte como não existe igual. Venham ver o bosque de pinheiro que está pintado na parede do fundo do templo.

Ele se virou e foi devagar, arrastando os chinelos. Os dois o seguiram.

Quando chegaram à última sala, ficaram maravilhados. De fato, era uma magnífica obra de arte. Começaram a andar desde o começo da pintura, observando as árvores de todos os tamanhos e tons de verde. Perceberam que, além dos pinheiros, havia outras figuras, montanhas ao fundo, um sol dourado iluminando o céu, jovens em grupos, em pares, conversando, colhendo flores.

Chu ia à frente e, quando chegou bem no meio da parede, parou. Ali estava uma jovem tão linda que o deixou boquiaberto. Era alta, elegante, os olhos negros pareciam duas jabuticabas, a boca era como um morango maduro; tinha um cesto no braço, colhia flores e seus cabelos eram longos e negros, penteados em duas grossas tranças até a cintura. Chu apaixonou-se imediatamente por ela e ficou ali parado, contemplando cada detalhe daquela jovem tão bela.

Chu não sabe quanto tempo ficou ali, até que de repente sentiu como se tivesse flutuando, seus pés não tocavam o chão. Olhou à sua volta e viu um sol dourado iluminando o céu, ouviu vozes e percebeu que eram das jovens que ele tinha visto pintadas na parede. Foi então que se deu conta de que estava dentro do quadro.

Quando se refazia do susto, viu a jovem de quem tinha gostado, um pouco mais adiante. Ela olhou para ele, sorriu, jogou as tranças para trás e saiu correndo. Ele a seguiu até que ela chegou a um jardim cheio de pequenas flores coloridas, que ficavam em volta de uma casa toda branca. Ela atravessou o jardim e parou diante a porta. Quando Chu se aproximou, eles entraram e ficaram parados em pé, um diante do outro, bem no meio daquele aposento silencioso.

Eles se abraçaram, e Chu sentiu que amava aquela jovem como se fosse desde sempre. Então, eles foram para a cama e, na manhã seguinte, eram marido e mulher. A jovem se levantou e foi pentear os longos cabelos, mas agora não fez as duas tranças, e sim um coque na nuca, como era o costume das mulheres casadas. Enquanto conversavam, ouviram barulhos estranhos lá fora, passos pesados, som de correntes. A jovem ficou pálida, fez um sinal para Chu não dizer uma palavra. Foram até a uma fresta da porta e espiaram para fora.

Viram um ser descomunal, inteiramente vestido com uma armadura de ferro. Com os olhos ameaçadores, ele carregava nas mãos um chicote, grilhões e uma corrente. Ele disse para as jovens do quadro que estavam à sua volta, apavoradas:

– Afastem-se. Sei que há um ser humano entre nós, não adianta esconder.

Agora vou vasculhar dentro da casa, tenho certeza de que ele está lá.

A jovem ficou mais pálida ainda e disse:

– Chu, depressa, esconda-se embaixo da cama, não dá tempo de mais nada.

Chu mal teve tempo de correr para debaixo da cama quando viu a porta se abrir. Duas botas de ferro entraram dentro do quadro.

Enquanto isso, Heng olhava o quadro e deu por falta do amigo. Perguntou ao velho monge onde ele estava e o velho respondeu:

– Não se preocupe, ele não está muito longe não.

Batendo com os dedos na parede, chamou com voz tranqüila:

– Volte senhor Chu. Já é tempo de encontrar seu amigo outra vez!

Neste momento, Chu foi saindo de dentro da parede.

– Onde você esteve? – perguntou Heng.

– Eu não sei – disse ele – Estava embaixo da cama, ouvi um barulho terrível, saí para ver o que era e, sem saber como, cheguei de novo nessa sala.

Os dois amigos voltaram a olhar o quadro desde o começo para se despedirem dele. Chu ia a frente; quando chegou no meio da parede, aquela jovem estava lá.

Alta, elegante, os olhos como duas jabuticabas, a boca lembrava um morango maduro e ela colhia flores. Mas seus cabelos não estavam mais penteados em tranças. Agora eles formavam um coque na nuca, como era o costume das mulheres casadas, naquele lugar.

Os dois amigos desceram as escadarias do templo em silêncio. A chuva já tinha parado e eles se foram sem dizer uma palavra. A viagem continua.

Autor desconhecido
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