A casa feita de sonho

Leve como uma pluma,

alta como uma torre,

quente como um ninho

e doce como o mel,

assim imaginei

desde pequeno

a minha casa…

Mais tarde, quando me encontrei só no mundo, como não tinha dinheiro, resolvi construí-la com as próprias mãos. Fiz primeiro a minha casa de papel, que é um material barato.

E assim que ficou pronta, vieram todos os ventos da Terra e levaram a minha casa de papel, leve como uma pluma…

Fiquei sem casa, mas não desisti. E fiz a minha casa à beira-mar, com areia da praia, que é um material barato.

Mal estava pronta, vieram todas as marés do mundo e levaram a minha casa de areia, alta como uma torre…

Tive vontade de desistir, mas eu precisava de uma casa, e sobretudo não podia abandonar o meu sonho.

E resolvi fazer a minha casa de madeira, que é um material barato. Cortei-a dos bosques, com as   próprias  mãos! Ficou linda!… Escondida entre a folhagem…

Mas ainda mal a tinha acabado, vieram todos os fogos do céu e queimaram a minha casa de madeira, quente como um ninho…

Chorei sobre as cinzas, como se chora uma pessoa querida que morreu.

Mas, mesmo assim, não desisti. E resolvi fazer a minha casa de açúcar…

Mas o açúcar não é um material barato! Pois não…

Mas eu precisava de uma casa, e sobretudo, não podia abandonar o meu sonho.

Trabalhei, lutei, passei fome, para juntar o açúcar suficiente…

E quando a minha casa estava pronta — eram de açúcar as paredes, o chão, o tecto, os móveis, as portas e as janelas — vieram todos os bichos da Terra e devoraram a minha casa de açúcar, doce como o mel…

Fiquei sem casa. E desisti de construí-la com as próprias mãos…

Perguntam-me onde moro… Onde moro eu? Sei lá!… Vou pelo mundo, aqui, além, no bosque, à beira-mar… Perguntam-me se não tenho casa… Tenho, sim! Eu podia lá abandonar o meu sonho!…

Resolvi imaginá-la. Num sítio onde não chega o vento, nem o mar, nem o fogo, nem os bichos da Terra.

Fiz a minha casa com o meu próprio sonho.

Ficou linda!

Leve como uma pluma, alta como uma torre, quente como um ninho e doce como o mel…

Autor: Ricardo Alberty

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