Assim tão de repente, ela viu a porta do quarto ser fechada. Sentou-se na cama e vagarosamente começou a vestir a linda camisolinha, toda cheia de babados.
Seus cabelos loiros reluziam à luz do luar que entrava através da janela entreaberta. Pôs os chinelinhos, foi até a cadeirinha na frente da cômoda, e pegou seu lindo urso. Abraçada a ele, sentou-se na cadeirinha e então começou a conversar:
– Oi Eric, ainda não estou com sono, e você?
-Também não – respondeu o urso, feliz de estar colo da Nana. Assim a chamavam carinhosamente todos da família.
– Fico pensando que as estrelas são lâmpadas do céu.
– E a Lua o que é? – perguntou Eric.
– Bem, a Lua eu acho que deve ser a lâmpada maior na rua onde Jesus mora.
– Mas, por que na rua onde Jesus mora a lâmpada é maior? – perguntou Eric.
– Ora, se todos nós vamos morar com ele um dia, a casa dele é muito grande e precisa de lâmpada grande!
– É, pode ser mesmo – concordou Eric.
Ainda olhando para o céu, Nana diz:
– As nuvens são os carrinhos que levam a gente. São tão diferentes… Veja Eric, como as lâmpadas estão piscando e parece que uma caiu. Veja, a Lua está pela metade.
– Chii, não estou acreditando na tua estória não, – disse Eric arregalando os olhos para o céu.
– Pode ser que tenha estragado a luz, ora, até aqui em casa isso acontece! Sabe de uma coisa Eric, vamos ficar na janela, quem sabe poderemos dar um passeio até lá e ver de pertinho todo o céu!
Olhando firme para o céu, Nana disse:
– Veja Eric, são tantas as luzinhas, gostaria de ter uma só para nós.
Nisto, descendo rapidamente do céu, a estrelinha chegou até Nana e Eric, no parapeito da janela.
– Veja, Veja! – disse Eric entusiasmado. Nana imediatamente estendeu a mãozinha e pegou a luzinha que piscava muito.
Foi para a cama e sentou-se no meio dela. Antes colocou o Urso sentado no travesseiro pois assim ele ficaria mais alto.
– Veja Eric, comobrilha!
De repente parou de piscar.
Um clarão encheu a cama de Nana e, de uma portinha da estrela, saltou uma menina bem pequenina.
– Puxa é menor do que eu – pensou Eric.
– Minha Nossa! – exclamou Nana assustada.
– Não se assustem – disse o ser pequenino. – Meu nome é Érica, você me chamou – disse olhando para Nana – Eu vim!
– Mas você não é lampadinha? – perguntou Nana.
– Não sou lampadinha – disse Érica.
– Você mora no céu? – perguntou Eric
– Isso mesmo, lá em cima.
– Ah, então conte pra gente como é lá em cima.
– Bem, agora à noite todos estão dormindo como vocês deveriam estar.
– E as estrelinhas são lampadinhas das ruas como pensei? – perguntou Nana aflita por querer saber tudo.
– São – disse Érica. – Nossas ruas são todas iluminadas e muito limpinhas.
– Eu não disse, eu não disse – repetia Nana toda contente. – Me diga uma coisa, – disse Nana muito séria. – Por que às vezes faz um barulho grande e chove bastante?
– Porque lá em cima é tudo muito limpo, e todos lavam as ruas. Jogam água nas flores, na grama e, às vezes, cai um pouco aqui também.
– Mas e o barulho? – perguntou Nana,
– É, e o barulho? – repetiu Eric.
– São trombadas. Vocês nunca ouviram o barulho de uma trombada?
– Sim – disseram os dois.
– Pois então, bate uma nuvem na outra e, às vezes, a trombada é tão forte que sai faísca.
– Érica, e a casa de Jesus, você conhece?
– Não, não conheço.
– Ora não é a maior de lá? – perguntou Eric espantado.
-Ouçam bem vocês dois – respondeu Érica. – Jesus não mora no céu.
– Não!? – Disseram os dois ao mesmo tempo.
– Não – repetiu Érica. – ELE mora dentro de nós e está com a gente o tempo todo em nossos corações.
– Você quer dizer que Jesus mora dentro de nós, Érica? Onde? – perguntou Nana, olhando para si mesma surpresa.
– Já disse, no seu coração – repetiu Érica.
– No meu coração – disse Nana levando a mão ao peito.
– É isso mesmo, vejo que entenderam.
– Agora vou voltar que já é tarde. Vamos dormir, outro dia voltarei e contarei mais.
A porta do quarto foi aberta bem devagar. Era a mamãe que vinha para dar boa noite à Nana.
– Vejam só, dormindo com a janela aberta! – Veja só, o Eric sentado na janela!
Colocou o urso na cadeira, beijou a menina que dormia e saiu de mansinho. Eric se ajeitou na cadeira e pensou;
– Quem sabe amanhã Érica volta e nos conta mais coisas do céu.
Colocou a mãozinha no coração, fechou os olhos e pensou:
– Vou cuidar para que eu mereça que ELE sempre more em mim…
Marlene B. Cerviglieri