Numa cidade vivia uma mulher viúva com a sua filha; a filha era bonita e jovem e diligente, mas não tinha conhecido algum na cidade. Elas moravam numa rua, e as pessoas passavam por sua casa, mas ninguém subia a escada e perguntava à moça bonita, se ela não queria se casar. A mãe, ao ficar velha e estando perto da morte, ficou triste e preocupada, sabendo que deixaria a sua filha sozinha no mundo. Ela tinha uma estatueta de Santo Antônio no seu quarto, e a colocou nas mãos de sua filha e lhe disse:
– Cuide e honre o nosso santo Antônio, e reze para ele como eu o fazia, ele enviará um marido para você não ficar mais sozinha.
A mãe morreu e a jovem fazia fielmente o que prometera à sua mãe: por um ano, ela dirigiu sua oração ao intercessor, de manhã e à noite, para que ele, por favor, interviesse por ela com Deus para que lhe fosse enviado um homem para se casar. E continuou vivendo piedosa, mantendo em ordem a sua casinha. Mas como depois de um ano ainda não viera ninguém, ela ficou zangada com o santo, parado ali no seu canto, sem saber dar um conselho sequer.
– E você quer ser o santo Antônio?, ela disse para ele, – e não consegue arranjar-me marido no mundo? Pois procure as pessoas que precisam de um santo assim! Eu não quero mais nada!
Pegou a estatueta e, com muita raiva, jogou-a pela janela para a rua.
Mas, era a vontade de Deus: neste momento passava ali um jovem bem apessoado, e a estatueta atingiu a sua cabeça, ferindo-o gravemente. A moça levou um grande susto, correu escada abaixo e achou o moço ensanguentado e sem sentidos na frente da sua porta. Com muito esforço levou-o para o seu quarto, lavou e cuidou da ferida, cozinhou uma boa refeição para ele e assim foram passando duas semanas, até o dia em que ele havia se recuperado bem. Neste meio tempo, porém, os dois tomaram de amor um pelo outro, e quando o moço pode levantar novamente, tomou o seu bastão de caminhadas na mão, como se quisesse ir embora, mas ficou apenas girando-o na mão, pôs o chapéu na cabeça e tirou-o em seguida, perguntando:
– Quer casar comigo?
– Sim, – disse a moça, – com muito prazer.
Assim se tornaram um casal e viveram felizes. O santo Antônio voltou para o seu canto e foi tratado com muita reverência.
Autor: Bernt von Heiseler
Extraído de: O fogo de São João
Compilação de: Karin Elisabeth Stasch