Que história legal vou contar para vocês…
– Quem conhece a Dona lagartixa… xá?
Cantava o menino da rua… Pulando de pedra em pedra… Contava a história da Lagartixa…xá para todos que queriam ouvir.
Faziam uma roda ao redor dele na calçada mesmo… O sol ia dormindo e o menino continuava a contar…
– A Lagartixa… xá vivia triste, porque ela era meio esquisitinha. Tinha um rabo compriiiidooo, parecia até uma cobra. Todos corriam dela. Muitos caçoavam de seus dedos.
– Credo que dedos feios, looonnngooosss… e a cabeça então? Chaaaatttaaaa…. (letra chata)
Aahhh, o pessoal da redondeza achava que ela nunca iria arranjar um namorado.
Vocês já viram uma lagartixa andar? Pois é! É muito engraçado.
Os dias se passavam e ela se sentia só… que dó. Abandonada, sem amigos, achando que o mundo ia cair nas suas costas.
– Oh azar… não presto prá nada. Não sirvo prá ninguém! Quem gosta de mim?
Pensava até em se enfiar debaixo de uma pedra e lá esperar o fim de seus dias.
– Ninguém vai notar mesmo – ela pensava meio manhosa.
Foi quando… numa manhã… Apareceu uma menina desesperada correndo por todos os lados.
Todos da redondeza arregalaram os olhos para ver o que estava acontecendo – você sabe né, o povo gosta espiar para ter o que falar…
Até as formigas e a Dona Joaninha tiraram a cara de suas tocas.
Parecia que a menina estava procurando alguma coisa
– Será que perdeu algo? – começaram a comentar.
– Posso ajudar? – cantou esbelto o passarinho.
A menina olhou, olhou e não viu ninguém.
– Quem falou?
– Eu, aqui de cima – enchendo o peito amarelo cantou. – O que a senhorita deseja?
– Eu preciso de ajuda. Minha família está morando numa nova casa velha que tem muitas aranhas…
– Hummm, prossiga – toda redondeza estava de ouvidos bem abertos.
– E não tem lugar para todos lá. As aranhas disseram que só saem se nós levarmos uma lagartixa para elas. Eu não conheço lagartixa, não sei o que é, mas ela pode muito nos ajudar.
Foi quando a Lagartixa… xá ouviu seu nome ao longe – esfregou os olhos, botou a cara para fora e foi ouvir de perto meio desconfiada.
– Quem será que lembrou de mim? Algum parente?
Foi se aproximando devagarinho.
– Nós conhecemos uma lagartixa… feia que dói… não serve pra nada… – coaxou o sapo nobrejo.
– Ahhh! Não importa… se ela quiser vir comigo daremos casa, comida, tudo o que ela precisa.
– O QUEEEEE??? TUDO PARA A LAGARTIXA… XÁ??? FEIA E DESENGONÇADA????
A turma toda da redondeza se escandalizou.
Ela mesma escondidinha no meio das folhas, não acreditava no que ouvia.
– Devo estar sonhando… EU tão esquisitinha!!!
E o gavião majestoso voou:
– Eu sou o mais poderoso, posso lhe ajudar melhor.
O gato miou forte:
– Eu sou o mais charmoso.
O cachorro latiu:
– Eu sou o mais fiel.
O passarinho cantou:
– Eu sou o mais alegre
E a lagartixa… xá chorando foi se encolhendo.
– NÃO! NÃO! – falou forte a menina. – Só me interessa a lagartixa.
A Lagartixa… xá lá debaixo das folhas sentiu uma força em seu coração (pequenininho mas tinha).. e pulou correndo meio trêmula, com o melhor sorriso que pode ensaiar rapidamente:
– Aqui estou eu… Dona lagartixa… xá às suas ordens (agora ela era dona).
A menina ficou tão feliz que abraçou a Lagartixa… xá e beijou suas mãos (argh!) e levou-a para a nova casa… velha.
Toda turma não conseguia acreditar, e desconfiados diziam:
– Hiii, logo logo vai voltar, não vão agüentar.
Passaram-se muitos anos e até hoje só se escuta histórias belas da Dona Lagartixa… xá.
As aranhas foram morar em outro lugar, a nova casa velha ficou mais tranqüila… e a Dona Lagartixa..xá é amada, importante, muito útil e feliz.
Já está até com um belo namorado… e pensam em se casar… ter filhos (o povo que não tem o que falar… gosta de comentar, dizem que nascerão filhos horríveis…), mas ela não está nem aí… já não dá mais bola para estes comentários…
Muitas famílias amigas da menina, já estão ansiosamente a espera que nasçam logo novas lagartixas, tão especiais quanto a Dona Lagartixa… xá.
MORAL DA HISTÓRIA?
– Não importa quem seja, todos somos úteis e temos uma função.
– Beleza não põe mesa.
– Muitos precisam de uma oportunidade para mostrar seu verdadeiro valor.
– Devemos descobrir nosso verdadeiro valor também.
– O que seria dobranco se todos gostassem do azul?
– Gosto, cor e amor não se discutem.
Vânia Lúcia Slaviero
