Bruxa Bromélia

O menino achou a história bonita. Ainda estava pensando no rio que virou vapor, que virou chuva e que encontrou o mar quando a voz falou de novo:

– Entendeu por que o rio virou o olho?

– Mais ou menos – respondeu o menino. Ele estava começando a ficar incomodado por não saber quem estava falando com ele.

– É muito simples. É que você prestou atenção de um jeito diferente – disse a voz.

– Bom, e daí? – disse o menino irritado.

– Daí que, se você virar o olho, virou a cabeça na direção de onde vinha a voz. Só viu uma porção de plantas, arbustos, umas florzinhas amarelas.

– Assim não dá – ele ouviu outra vez. – Não precisa espremer a vista com tanta força.

Agora era uma questão de honra, pensou o menino. Ele não ia desistir naquele momento. Nem que tivesse que passar a vida inteira tentando, ia descobrir de quem era aquela voz. Começou a fazer muitas caretas, arregalando os olhos ao máximo, olhando de cima para baixo, de baixo para cima, de um lado para o outro.

A voz virou uma gargalhada.

– Nossa, que exagero! Sua cara está ficando toda vermelha e muito engraçada. Com tanto esforço, você vai acabar explodindo.

Aquilo era demais! O menino ficou com raiva. Ninguém, nem mesmo uma voz absurda saindo do nada ia se divertir à suas custas. Piscou o olho, já com a resposta bem brava engatilhada na garganta, mas não conseguiu dizer nada. Porque de repente ele viu: uma bromélia bem gordona, vermelha, sacudindo as pétalas de tanto rir, bem ao seu lado.

– Desde quando bromélia fala e ri? – ele perguntou indignado.

– Desde quando eu nasci. Antes, muito antes de eu ter me tornado a respeitável bruxa que sou hoje. Bruxa Bromélia, às suas ordens.

– Bruxa Bromélia – repetiu o menino, mastigando as palavras. – Eu até que gostei do seu nome, mesmo não sabendo muito bem como uma bromélia pode ser bruxa.

– E você ainda não viu nada – disse ela com uma voz cheia de importância.

– Precisa conhecer o povo que mora aqui.

– Nesse bosque existem outras bruxas?

– Não, imagine. Bruxa, com toda a honra, só eu. Nem precisava ter mais de uma. Todo mundo aqui sabe cuidar da sua vida. Quer dizer, mais ou menos. A verdade, nos últimos tempos, o rei da floresta anda muito triste. Nem eu estou dando conta, sabe. Faço uns encantamentos, canto umas músicas, sopro umas ventanias, só que nesse caso do rei, não estou conseguindo nenhum resultado. Aí resolvi desabafar com a primeira pessoa que apareceu, justamente você.

– Nossa quanta coisa de uma vez. Não entendi quase nada. Dá pra você falar mais devagar?

– Agora não poso explicar nada. Entre na floresta e continue de olho virado. É só o que posso dizer.

E então, sem mais, nem menos, a Bruxa Bromélia desapareceu.

O menino não se atrapalhou, porque tinha ficado muito interessado na brincadeira de olho virado.

 

Autor desconhecido

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