Em alguns países, os besouros têm couraças tão coloridas e resistentes, que são usadas até pra enfeitar broches e colares, como se fossem preciosas gemas.
Há muito tempo, os besouros tinham couraças marrons, bem comuns. E foi assim que os besouros ganharam novas couraças.
Um dia, um besourinho marrom tentava subir pela parede quando um ratão cinzento correu para fora da toca e ficou olhando zombeteiro para ele.
– Hu, hu, disse o rato ao besouro. Como você rasteja devagar! Assim, nunca vai chegar a lugar nenhum do mundo. Veja só como eu corro depressa!
O ratão cinza correu até o fim da parede, deu uma virada e voltou para junto do besouro, que só tinha avançado um pouquinho de nada.
Você não queria correr tão rápido assim? Perguntou o ratão.
– É vê-se que você corre bem depressa – respondeu polidamente o besourinho.
A mãe lhe ensinara que um besouro educado de verdade nunca se gabava de seus próprios dotes. Ele realmente nunca se vangloriava de nada. E continuou subindo lentamente pela parede.
Um vistoso papagaio verde e dourado, quieto numa mangueira do outro lado do muro, estava escutando a conversa.
– Você gostaria de apostar uma corrida com o besourinho? – Perguntou o papagaio ao ratão cinza. Meu vizinho é o passarinho alfaiate, continuou, e só para a corrida ficar mais animada, eu ofereço como prêmio ao vencedor um casaco de cores bem vivas. Vocês poderão escolher qualquer cor que desejarem e eu farei a encomenda.
– Eu queria um casaco amarelo listrado, como os tigres – disse o ratão cinza, olhando por sobre os ombros para as lúgubres costas cinzentas, como se já estivesse admirando o casaco novo.
– Eu também queria um casaco novo, bonito, cheio de cores alegres – disse o besourinho marrom.
O ratão cinza caiu na gargalhada, rindo de se sacudir.
– Ora, ora! Não me diga que você está sonhando que trem alguma chance de ganhar a corrida! – disse, quando conseguiu falar.
O vistoso papagaio verde e dourado marcou a grande palmeira, no alto do morro, como ponto de chegada. Deu o sinal de largada e depois voou até a palmeira para acompanhar a corrida.
O ratão correu o mais rápido que pôde. Mas pouco depois, achou que estava se cansando demais.
Para que correr, disse a si mesmo. O besourinho marrom não vai vencer de qualquer jeito. Se eu estivesse competindo com alguém que corresse de verdade, aí seria diferente.
E passou a correr mais devagar, embora seu coração lhe dissesse a cada batida:
– Corra, Corra!
O ratão resolveu obedecer à voz do coração, e voltou a correr mais o que podia.
Quando chegou à palmeira, mal acreditou no que viu. Pensou até que era um pesadelo. Lá estava o besourinho marrom, sentado quietinho entre a palmeira e o vistoso papagaio. O ratão nunca ficara tão espantado em toda sua vida!
– Como é que você deu um jeito de correr tanto e chegar aqui tão antes? – perguntou ao besourinho logo que recuperou o fôlego.
O besourinho abriu as asinhas dos dois lados.
– Ninguém disse que era preciso correr pra ganhar a corrida – respondeu ele, então preferi vir voando.
– Eu não sabia que você voava – disse o ratão cinza, muito sem graça.
Depois dessa, disse o vistoso papagaio verde e dourado, nunca julgue ninguém somente pela aparência. Como adivinhar se existem asinhas escondidas? Você perdeu o prêmio.
E o papagaio voltou-se para o besourinho marrom, que esperava quietinho a seu lado.
– Que cor você prefere o seu novo casaco? – Perguntou.
O besourinho, olhando para as penas verdes e amarelas do papagaio, para as palmeiras verdes e douradas, para as mangas verdes de faces douradas, caídas da mangueira e para o sol dourado sobre as verdes montanhas.
– Quero um casaco verde e dourado – disse.
Desde esse dia, o besourinho usa um casaco verde com luminosos reflexos dourados.
E até hoje, nesses países onde as flores, os pássaros, os bichos e os insetos são tão coloridos, o rato ainda usa o mesmo casaco cinzento e sem graça.
Recontada por Elsie Eeels
Extraído de: Livro das Virtudes II – o compasso moral
William J. Bennet (Org.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira