O cavalo de ouro

– Eu estou vivo!… Eu acabo de nascer!…

No princípio, O ar do campo e da vida veio forte aos meus pulmões fazendo com que respirasse ofegante.Meu pêlo ainda úmido ia se secando com o calor do sol. E como a relva tinha um cheiro forte e verde!

Mamãe me olhava embevecida Nos seus olhos ainda molhados a dor ia-se transformando em felicidade.

Ela me falava.

– Vamos… tente agora… um, dois e três… Tentei saltar. Senti meu corpo fraquinho erguer-se no espaço. Mas as minhas pernas não me sustinham.

Tornei a tentar, mas de novo meu corpo caiu na relva. Então unia vontade de ferro veio-me assaltando. E pulei seguidamente e, antes da sétima vez, meu corpo se apoiou indeciso sobre minhas pernas.

Mamãe exultou…

– Isso, meu homenzinho.

Aí, eu senti fome e olhei meio sem jeito para mamãe.

– Será… que eu posso… mamar? Mamãe sorriu.

– Claro que sim, filhote.

N em esperei segunda ordem. Comecei a sugar o leite morno com sofreguidão. De vez em quando levantava meus grandes olhos castanhos e puros para ela, com desconfiança de que eu estivesse abusando. Mas mesmo que estivesse, mamãe não diria nada por que sabia que a vida para mim partia daquele momento.

Quando acabei de mamar, principiei a olhar o mundo que existia além de mamãe.

_ Olhe bem, meu filho. Olhe como a vida é linda. Quanto sol, quanta luz. E, sobretudo quanto campo para você daqui a pouco correr e fazer diabruras.

Meus primeiros passos foram desengonçados, entretanto, começava a me sentir muito feliz por ter nascido.

Ao entardecer vieram outras éguas da fazenda visitar mamãe.

Xi! Dona Gema, como ele é bonitinho!

E que olhos grandes

Que testa inteligente!

Pois eu, falou uma égua cor de ébano. – O que eu gosto nele é essa cor dourada. Parece até um pedaço de sol…

Mamãe falou:

– Naturalmente não possuo falsa modéstia nem mesmo o esnobismo da simplicidade como é moda hoje em dia. Mas o que mais me agrada nele são as proporções das pernas. Meu filho será um grande campeão.

No começo mamãe me ensinava a correr. Começamos devagarzinho lado a lado. Depois, mais seguro, desabalava na frente e parava adiante. Voltava e gritava para mamãe:

– Mamãe perdeu!… Mamãe não pode comigo!… Ela sorria e abanava a cabeça, feliz:

– Bobinho! Não ganho porque não quero… Um dia, mais tarde, sim, você vai ser um grande campeão. Aí, nem mamãe nem ninguém poderá competir com você.

Alisava-me as crinas de ouro e comentava calma e suavemente:

Sim, você será um orgulho para a gente. Mas enquanto não é um campeão, viva, meu filho!

E dava-me uma palmada tão amiga, que mais era um beijo do que uma palmada.        .

Viver!… Viver!… Viver!… Sim, era isso que eu queria.  Era isso que eu devia fazer.

E dilatando as narinas sorvia todo o ar morno que se aquecia ao sol, e relinchava selvagemente.

Os campos eram pequenos para as minhas carreiras. O vento competia comigo, revolucionando minhas crinas e minha cauda de sol se rebelava para lá e para cá…

Tudo novo para mim: mim rojar-me na ,relva, amaciar a grama com meu corpo, roçar minhas costas na areia dando cambalhotas contínuas.

Ir até o grande açude conversar com os peixinhos vermelhos. Molhar as patas na água fria ou sorver goles e mais goles da água e respingar com ela o corpo suado.

Outras vezes, deitava-me no capim e ficava olhando o mundo pequeno. Vendo as formigas vermelhas escorregando pelas coisas da terra, conversando ao se encontrarem, diálogos pequenos e nervosos.

Ou então olhar o céu azul, quando de tarde, para acompanhar sem compreender a movimentação das nuvens, no céu.

Uma vez falei para mamãe.

Mamãe espie para o céu!…

– Por quê, meu filho?

– Por nada. Espie.

Ela levantou a vista para cima e eu quase gritei de felicidade.

– Mamãezinha. Que beleza! Seus olhos estão cheios de nuvem. Por quê?

– Porque é assim mesmo bobinho, qualquer pessoa, até você, que olhar para o céu, as nuvens se refletem dentro dos olhos.

Era vida: viver!… Não havia dor, nem fome, nem sede. E nas raras vezes que chovia, ai que bom! Todo mundo ia correr na chuva, pisar a água que encharcava a grama ou então se encolher com medo dos trovões, debaixo das árvores.

Certa manhã umas senhoras bonitas vieram visitar a fazenda e ver principalmente a criação de cavalos,

Ao depararem comigo, exclamaram espantadas:

– Que beleza de potro!… Que cor linda!… Estarreci-me diante delas e abanei a cauda, agradecido.

– Engraçado!… Que bichinho inteligente! Parece até que ele entende o que se fala.

Como os homens eram bobos. Porque podíamos nós entender toda a sua linguagem e eles nunca conseguiam entender a nossa!…

Mas o que me fascinava era uma senhora cheia de flores na cabeça.

E elas continuavam a falar.

– Esse é a nossa esperança. Tem umas proporções magníficas e uma saúde de ferro.

– Que é o potro mais bonito que eu vi na minha vida, lá isso é!

Corri para mamãe.

– Mamãe, a mulher está dando flores na cabeça!

Mamãe riu.

– Mulher não se diz, meu filho, é senhora que se fala

– Pois mamãe, a senhora está dando flores na cabeça. Como é que pode ser? Ela não é árvore, não é trepadeira…

– Aquilo é chapéu. Elas arrancam as flores e colocam no chapéu. Que bobinho o meu garoto!

Saí em desabalada carreira pelo pasto afora. Só voltei ofegante quando o sol esfriava anunciando a noite. Mamãe conversava com outras senhoras-éguas, debruçadas todas sobre um pedaço de jornal.

Interrompi a reunião, implorando:

– Mamãe, por favor, venha comigo.

Mamãe desviou a atenção concentrada no pedaço de jornal e perguntou o que eu queria.

– Ah! Mamãezinha, achei uma coisa. É segredo entre nós dois.

– Mas meu filho deixe para amanhã. Nós estamos fazendo palavras cruzadas e não podemos interromper.

– Não gosto mais da senhora e não vou ser mais bonzinho.

Uma dor grande me invadiu e quase chorei. Era a primeira vez que mamãe me negava uma coisa.

E ela vendo a minha triste, e parecendo cair na realidade dessa primeira coisa negada, deixou tudo e comigo.

Ainda ouvi que Edite, uma bonita senhora-égua­ branca de descendência inglesa (ela que contaminou todo mundo com palavras cruzadas e vivia prometendo a mamãe e às outras senhoras que ensinaria pif-paf) comentou para as outras:

– Gema faz muito mal. Tudo que esse rapaz quer. ela satisfaz. Não é assim que se educam os filhos… Pelo menos na Inglaterra…

Mas Ponciana, uma senhora-égua malhada, comentou:

– Ela sabe que está por pouco.

O resto não ouviu, nem me interessava saber o significado de tudo aquilo.

Corri ao lado de mamãe o mais depressa possível.

Só paramos quando chegamos a um velho pé de ipê.

– Olhe, mamãe.

– Não sei o que você quer.

– Eu não alcanço, mamãe.

– O quê? Aquelas flores amarelas?

– Sim, mamãe. Apanhe para mim.

– Mas para quê, meu filho?

– Quero botar na cabeça.

Mamãe riu.

– Mas rapaz, homem não usa essas coisas na cabeça. Fica feio.

– Não importa, mamãe. Fica tão bonito. Ninguém precisa saber.

Mamãe então arrancou as flores com os dentes e foi enchendo minha crina de flores amarelas. E enquanto isso fazia, principiou uma conversa que só dois dias depois seria terminada:

– Um dia, quando você ganhar um grande prêmio, colocarão sobre você uma grande ferradura de flores. Então você saberá realmente o que é bonito.

Até aquele momento eu só pensara em viver. Sentir em meu corpo doçuras de sol, mexer com minhas patas a mornidez da areia, sorver com as narinas golfadas de vento. Tudo na mais absoluta liberdade… e só agora eu reparava que vivendo, crescera, e crescendo a vida dera os primeiros sintomasdo que iria exigir de mim.

Ao entardecer desse dia caminhei devagar e tristemente me deitei à sombra do grande bosque de eucaliptos. Nem sequer reparava que os pássaros da tarde cantavam a cantiga do adormecer. Nem o vento que remexia miúdo as folhas dos eucaliptos que pouco a pouco iam-se tornando negras.

Eu só pensava naquela conversa!

– Meu filho, precisamos conversar seriamente. Olhei mamãe com espanto.

– Vamos dar uma volta por um lugar bem deserto, onde tudo que eu disser ficará em segredo entre o seu coração e o meu.

Algo de estranho se anunciava naquela doçura calma com que Mamãe me falava. Algo, pensava eu, de muito grave e definitivo.         .

Corremos lado a lado até próximo a uma barranca que rasgava a relva verde, com o seu vermelho ameaçador.

Paramos e mamãe tomou a me olhar com certa dureza e resignação. Abaixei os meus olhos, incomodado.

– Eu lhe falei que precisávamos conversar seriamente.

Fiz sim com a cabeça, sem levantar os olhos.

– Pois bem, meu filho. Você já está um homem.

Já não é mais uma criança. Isso significa que o tempo passou e que nos vamos nos separar.

Levei uma punhalada no peito. Mal consegui balbuciar:

Mas por quê, mamãe? Tão cedo ainda!…

– Eu sei que é duro dizer isso. Também é dolorido para mim. Mas você é um homem e precisa saber o que nossa vida. Não. Não me interrompa agora. Nós vamos nos separar. Primeiro, já é tempo de voltar a cumprir meu dever de maternidade e assim sendo, trazer para o mundo mais outros irmãozinhos seus… É dever nosso… E para você, serão iniciados também os primeiros deveres”. Dentro de dois dias, mais ou menos virão buscar você para os treinamentos. Virão montá-lo…

– Isso nunca, mamãe. Nunca deixarei. Não quero. Eu sou bonito. E em cima de mim os homens não montarão. Só o sol que acha meu pêlo dourado como uma maravilha e o vento que me acaricia, poderão montar sobre meu corpo.

Mamãe riu.

– Montarão sim, meu filho. Eles montarão. Os homens fazem tudo que querem… E você vai deixar. Eu confio em você. Afinal, só terei orgulho de você mais tarde. Você é um homem, meu filho, e não pode admitir que um filho meu, o mais bonito cavalo de raça, o cavalo de ouro, se deixe abater por uma conversa.

– Mas mamãe, eu não sou um homem ainda…

– Como, se você está mais alto do que eu…

– Ah! É assim? Pois vou andar com as pernas encolhidas e ficarei menor.

Mamãe riu.

– Faça assim e os veterinários lhe darão uma injeção… Agora vamos voltar porque a noite ronda os campos com sono. Depois, nós tomaremos a falar no assunto.

Era isso o que se passara e a perspectiva de vida que se abria aos meus olhos.

Tomei mesmo uma resolução. Principiei a andar com as pernas encolhidas para fugir ao cerco que me ameaçava. Mas, santa ingenuidade, aquilo em vez de disfarçar, chamou mais ainda a atenção sobre mim.

– Que terá acontecido com aquele potro?

E antes que conseguisse fugir, vi-me agarrado por uma porção de gente e levado para dentro de Um cercado. Continuei deitado. Já que principiara a comédia, ira até o fim. Uma vaga esperança rodava no meu íntimo: talvez os homens não descobrissem o que eu tinha e desistissem de montar-me.

– Esse cavalo está é com fita, comentou o veterinário.

Rodei os meus olhos desesperados, olhando devagar um a um daqueles homens.

Examinaram-me as juntas, as patas, as pernas.

O veterinário murmurou de novo.

– Fita!… não tem nada… Mas eu tenho um remédio que é…

Abriu uma valise e apanhou uma seringa de injeção enorme e ante os meus olhos surgiu aquela agulha imensa e fina… não resisti ao medo e sem poder conter-me e sem permitir que os outros me sustivessem, levantei-me de um salto e corri como um louco. Atravessei a porteira de um salto e procurei, relinchando, os grandes pastos incendiados de sol.

Atrás de mim os homens sem coração gargalhavam sem parar.

Então tudo acabou-se. Vieram os homens e me levaram mesmo. Deixei que eles substituíssem o sol e o vento pelos homenzinhos que me treinavam.

Minha vida era uma série de regimes e de alimentação. Minhas carreiras foram medidas continuadamente, diariamente, por um relógio. Nada, nem um só movimento errado escapava aos olhos do treinador. Agora habitava uma baia continuamente limpa. Era tratado dos pés à cabeça. Sempre sobravam elogios para as minhas “performances”.

Ao entardecer recebia recados por outros cavalinhos soltos, de mamãe. Que de longe, dizia ela, assistia com orgulho aos meus treinos.

Em vez de Cavalo de Ouro fui batizado como Saturno.

E a vida de um cavalo de raça nada tem de interessante quando cai nessa fase mecânica. O tempo se desenrolava como os músculos que se desenvolviam nas minhas pernas ou no meu peito. Tudo passava depressa.

Não me sei lembrar quanto tempo foi gasto nos meus treinamentos. Um dia… fui levado para a cidade. Estreei num prêmio e venci. Foi um sucesso. Treinaram-me mais (agora começava a sentir um certo orgulho em ser elogiado, aclamado) e concorri a outros prêmios mais importantes.

Sem dúvida tinha uma satisfação absoluta ao ouvir meu nome: Saturno! Saturno! Saturno! ao microfone, na voz alucinada dos torcedores no hipódromo.

Até que uma tarde de um domingo de primavera levantei o grande prêmio. A multidão delirou. Fui puxado ofegante, em triunfo. O povo delirava. Minha dona tirou fotografias ao meu lado, orgulhosa, e sobre o meu pescoço forte colocaram uma enorme ferradura de flôres. No dia seguinte meu retrato aparecia em todas as seções do turfe.. E os jornais só falavam a meu respeito.

Vagamente naquele momento lembrei-me das palavras de mamãe. Agora, orgulhosamente, preparavam-me para um prêmio um grande prêmio onde iria disputar com cavalos de classe internacional na Argentina.

E eu sabia que ia ganhar… tinha certeza que ia ganhar… Meus treinos agora eram furiosos, apertados, o jóquei amigo me incitava com palavras de coragem… mas…

O que tem de ser, tem de ser.

Uma manhã, durante uma das minhas arrancadas, meu pé penetrou num buraco e uma dor incrível fez meu corpo se projetar no espaço enquanto um estado cruel acompanhava minha queda.

Carregaram-me para uma baia e a tristeza morou comigo ao mesmo tempo que a dor.

Tudo que eu esperava veio como uma fatalidade.

Não perdi o abanar de cabeça do veterinário.

– Não poderá mais correr… A fratura…

Fechei os olhos para não chorar.

Ainda mancando voltei a caminhar sobre os pastos da fazenda. Agora tudo era feio para mim. Nada possuía os encantos que eu descobrira quando menino. Sabia que tudo estava no mesmo: os meus olhos é que tinham mudado.

Como poderia viver sem os aplausos da multidão,sem o contacto do jóquei sobre o meu corpo ou sem as grinaldas de flôres da vitória?

Procurei mamãe e soube que ela fôra vendida para uma fazenda no Paraná. Isso aumentou mais a minha solidão.

Depois minha dona me deu de presente para a sua filhinha Célia. Célia colocou-me a puxar a charrete de passeio. Já não era mais Saturno nem sequer cavalo de Ouro. Calos criaram-se nas minhas costas. Comecei a engordar. Minhas linhas iam desaparecendo e o tempo passava. Na realidade me transformara num cavalo comum e sem personalidade.

Muitos anos se passaram. Célia ficou mocinha e eu cada vez mais me sentia despojado tanto das minhas antigas linhas como das minhas memórias.

Da “charrete”, quis o destino que eu fosse rodar nas moendas da fazenda. E todo o dia, todo o dia, todo dia rodando amarrado, rodando amarrado, rodando amarrado.

Quando me soltavam era quase noite e os últimos raios vinham encontrar o meu corpo que antes era de ouro, calejado, com grandes cicatrizes e com feridas vivas. Nem o sol gostava mais de mim.

Minhas noites eram tristes, se bem que as nuvens e as estrelas, a lua e os planetas, estivessem ainda no céu… Nem queria lembrar-me que fôra Saturno.

O tempo passou. Meus dentes foram caindo. O reumatismo veio morar comigo. Comecei a cair no trabalho… Era a velhice a única coisa que se pode com­ parar com a solidão.

Soltaram-me num campo pequeno e feio, quente e sem vento. As moscas esvoaçavam sobre mim. Uma sonolência contínua fazia meus olhos se fecharem a todo instante. Quase não podia ficar de pé.

Uma manhã um preto velho apareceu com uma corda e foi me puxando devagarinho. Éramos iguais de velhice. Nem um dos dois poderia caminhar depressa.

Eu sabia o que me esperava. Mas não olhei para trás, não queria rever pela última vez a fazenda, nem recordar-me de nada.

Entramos na mata. E longe, onde eu não pudesse mais voltar (como se eu desejasse mesmo voltar!…) abandonou-me o triste velho.

Fui ficando tão fraco a ponto de nem poder comer capim, ou melhor de poder procurar o capim para comer.

Mas a mata estava ali, verde, selvagem e abandonada. Sabia que minhas horas estavam contadas e que os urubus em breve voariam em círculo sobre a minha cabeça… Nem mais queria ouvir a música da vida. Fechei os olhos cansados.

– Eu cantarei para o senhor. Não fique triste. Eu cantarei as coisas mais bonitas; não deixarei que o senhor fique sozinho, nem que lhe façam algum mal…

Olhei para uma rama e divisei Iracema-vigésima terceira, uma gentil e sempre medrosa coleirinha que cantava para mim… cantava horas e horas para o meu sono, o meu grande sono que se aproximava…

Na manhã seguinte, o cavalo estava morto e os urubus se aproximavam.

– Vão embora!… Vão embora! Não se aproximem… Por Deus não façam isso! gemia Iracema torcendo as asinhas.

Mas um urubu velho sentou-se sobre o animal e murmurou para Iracema:

– Não seja chata!… Isso é a vida… Porventura também não estamos cumprindo a nossa missão?…

Iracema voou chorando para o coração da mata, que nesse momento continuava quente e acolhedor…

 

Por: José Mauro de Vasconcelos

Extraído de: Coração de vidro

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